O Pequeno Italiano

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Drama russo sobre venda de crianças

O Pequeno Italiano (Italianetz, 2005) é um fabula sombria sobre uma prática comum na Rússia contemporânea (e em boa parte do mundo subdesenvolvido). Crianças estão sendo vendidas para casais ricos estrangeiros por lá. Por falta de recursos, mães abandonam seus filhos em orfanatos que se tornaram verdadeiras empresas de tráfico humano - leva quem pagar mais. Partindo dessa premissa, o diretor Andrei Kravchuk faz sua estréia em longas, denunciando essa prática com uma produção que flerta com a linguagem cinematográfica neo-realista italiana. O movimento se caracterizou pelo uso de elementos da realidade numa peça de ficção, aproximando-se até certo ponto, em algumas cenas, das características do filme documentário. Ao contrário do cinema tradicional de ficção, o neo-realismo buscou representar a realidade social e econômica de uma época mostrando-a de forma crua.
Na trama, o menino Vanya  de seis anos vive em um orfanato na Rússia. Em breve será adotado por um casal de italianos, daí o apelido dado por seus colegas, o "pequeno italiano". Um dia, uma jovem mulher aparece na instituição desejando recuperar seu filho. Desesperada, pois o filho já tinha sido adotado há tempos, ela se suicida jogando-se debaixo de um trem. Vanya acredita que sua mãe também pode tentar buscá-lo algum dia. Com medo que ela tenha o mesmo destino trágico, decide procurar por ela. Com essa idéia em mente, o menino parte para sua longa jornada em busca da mãe.

Há um quê de Dickens, de benevolência e indiferença, no decorrer da história. No orfanato percebemos uma estrutura que lembra a obra Oliver Twist, do autor. Através desse painel de personagens, Kravchuk aproveita para inserir elementos culturais soviéticos que contrastam e corroboram com o capitalismo ocidental. Ao mesmo tempo em que os órfãos precisam sobreviver como uma coletividade, muitos dependem de pais adotivos para um futuro melhor. Esse paradoxo apresenta um retrato da Rússia pós-Glasnot. Essa maneira inescrupulosa de adoção provoca uma reflexão sobre uma constante prática por parte das celebridades norte-americanas em relação as crianças africanas e asiáticas. 
 
Os temas são espelhados tecnicamente. As paisagens ganham tons acinzentados, transformando o cenário em algo drástico e apocalíptico. Uma realidade nua, desprovida de qualquer efeito cênico. A destruição emocional se sustenta em seqüências praticamente sem som. A trilha evoca diminutos acordes de uma cantiga infantil que apóiam a dramaticidade da narrativa. A câmera sustenta essa proposta com a utilização de close-ups. Mas nenhum desses atributos técnicos funcionaria sem a interpretação comovente de Kolya Spiridonov no papel de Vanya. Sua atuação impressiona pela riqueza de expressões.
Acertadamente, Andrei Kravchuk não investe no sensacionalismo barato. Sua obra é calcada no real - e chega ao extremo de usar como figurantes crianças abandonadas de verdade. 
Fonte: http://omelete.uol.com.br

>>> TRAILER http://www.youtube.com/watch?v=k1Zr2vhreSI
  • Título : Italianetz ( O Pequeno Italiano)
  • Diretor: Andrei Kravchuk
  • Ano de produção:  2005
  • País: Rússia
  • Duração: 1h 30min
  • Gênero:  Drama 
  • Roteiro:  Andrei Romanov
  • Elenco:
    Kolya Spiridonov, Denis Moiseenko, Sasha Sirotkin, Andrei Yelizarov, Vladimir Shipov, Olga Shuvalova, Polina Vorobieva   
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